Educação: Inclusão e Universalização
Por Abdon C. Marinho
Quando um assunto é muito discutido, há o risco de se tornar repetitivo. Vamos tentar evitar isso.
Recentemente, participei de um simpósio sobre educação inclusiva, o primeiro realizado no Maranhão. Parece que o tema está ganhando espaço entre os educadores, principalmente porque a maioria deles não se sente preparada para lidar com um público tão diverso.
Nossa participação foi como empresa do ramo educacional, a AME Mais Educação, uma EDUTEC que combina ferramentas pedagógicas com tecnologias de ponta. Por isso, estamos sempre inovando e buscando soluções para a educação pública.
Apesar do pouco tempo para falar, apenas para apresentar a empresa, comecei com uma provocação:
— Sou Abdon Marinho, tenho cinco anos, moro em um povoado, no interior do interior, sou deficiente físico, estou voltando a andar agora, acabo de ficar órfão de mãe. Que solução vocês têm para me oferecer?
Diante das críticas à minha provocação, esclareço: todas as informações são verdadeiras, exceto o fato de não ter mais cinco anos. Essa era a minha realidade há cinquenta anos. Após percorrer todos os caminhos da educação pública, desde a escolinha de latada no meu povoado, passando pelo primário e ginásio na sede do município, o ensino médio no Liceu Maranhense e a Faculdade de Direito na Universidade Federal do Maranhão, posso afirmar que a educação transformou a minha vida. No entanto, muitos do meu povoado não tiveram essa oportunidade e continuam perpetuando o ciclo de miséria de que herdaram.
A necessidade de enfatizar esse ponto é simples: muito além da inclusão, precisamos universalizar as oportunidades educacionais. Isso significa garantir que todas as crianças, independentemente de sua localização ou necessidades especiais, tenham acesso a uma educação de qualidade.
O Brasil enfrenta um paradoxo significativo na educação. Embora tenhamos feito progressos, como a valorização do magistério, a redução do analfabetismo e o aumento das matrículas na idade certa, a qualidade do ensino básico permanece estagnada e a universalização da educação de qualidade continua sendo um sonho distante.
Uma matéria recente da Folha de São Paulo destaca a necessidade urgente de investir mais de 60 bilhões de reais apenas neste ano para garantir que as escolas tenham condições mínimas para atender às crianças. No entanto, esse financiamento não está garantido para este ou para o próximo ano, e não há previsão para quando será disponibilizado.
Esse investimento é apenas o primeiro passo para garantir que as escolas tenham condições mínimas de funcionamento.
O verdadeiro desafio reside na universalização do conhecimento. Os gestores municipais, responsáveis pela educação das crianças desde a creche até o ensino fundamental, precisam encontrar maneiras de fornecer condições de aprendizagem iguais e de alta qualidade para todos os alunos.
A partir do ensino infantil, é crucial manter viva a chama da curiosidade e do conhecimento. As crianças devem ser educadas sobre a importância do conhecimento como ferramenta para o crescimento pessoal e para a ascensão social e profissional.
Para alcançar esses objetivos, é necessário implementar estratégias que melhorem as práticas educativas e tornem o ensino mais atraente. Sem esses esforços, e sem oferecer alternativas atrativas, corremos o risco de perder essas crianças para a violência e as drogas. Não é por acaso que a evasão escolar aumenta ano após ano a partir do sexto ano.
O Brasil tem se mostrado relutante em reconhecer que seu maior patrimônio reside em seu povo.
Para nos tornarmos uma nação competitiva que possa competir com as grandes potências mundiais, precisamos investir na educação e qualificação de nossa população. Não é suficiente simplesmente afirmar que reduzimos o analfabetismo; precisamos garantir que nossa população tenha as habilidades e o conhecimento necessários para prosperar em um mundo cada vez mais globalizado.
O segredo de um sistema educacional eficaz reside em ter um currículo que respeite as vocações individuais e regionais, ao mesmo tempo em que fornece uma base uniforme de conhecimento para todas as crianças, desde o ensino infantil até os anos iniciais do ensino fundamental.
É inacreditável que, no século XXI, o Brasil ainda seja um país monoglota. Ocupamos a 57ª posição em proficiência em inglês globalmente e a 11ª posição na América Latina. Essa discrepância é particularmente preocupante considerando a importância econômica, cultural e social do Brasil.
A principal razão para essa disparidade é que o ensino de línguas estrangeiras só se torna obrigatório no currículo a partir do sexto ano. Enquanto as crianças de escolas particulares já são fluentes em pelo menos duas línguas aos dez ou onze anos, as crianças de escolas públicas só começam a ter contato com línguas estrangeiras nessa idade.
Essa disparidade tem consequências significativas para a educação dessas crianças. Elas ficam em desvantagem em relação aos seus colegas de escolas particulares e perdem oportunidades de aprender com crianças de outras partes do mundo.
O desenvolvimento de uma nação depende diretamente do compromisso de seus líderes com a educação de suas crianças. As crianças de quatro ou cinco anos que estão ingressando no ensino infantil hoje serão a força motriz do desenvolvimento do país daqui a vinte anos. O nível de educação que lhes oferecemos hoje determinará se o país avançará ou retrocederá.
Quando a AME Mais Educação lançou o projeto Cidade Bilíngue, nosso objetivo era (e é) alfabetizar todas as crianças da rede pública em duas línguas diferentes (português e inglês) em quatro anos, durante os dois anos do ensino infantil e mais dois do ensino fundamental.
Isso significa que, quando a criança estiver com seis ou sete anos, ela já estará falando inglês, o que reforçará seu aprendizado da língua portuguesa.
Desde o lançamento do projeto Cidade Bilíngue, no início do ano, temos visto crianças do ensino infantil, algumas com apenas três anos, já demonstrando desenvoltura com a língua inglesa.
Toda criança precisa de uma oportunidade. Se dermos a ela a chance de aprender, ela aprenderá.
O desafio para os gestores públicos é compreenderem isso e universalizarem a oferta de ensino de qualidade, apostando no potencial de suas crianças e jovens.
Nada substitui o conhecimento.
Abdon C. Marinho é advogado.